Michael Doublott

Reinvetion

Publicado Por Michael Doublott As terça-feira, março 30, 2010

"Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que o seu caminho é o único. Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia."

... Foi naquela hora que eu decidi o que ia fazer.. Eram 9 horas da manhã, e lá fora o som perturbador de carros e motores irrompia meu quarto repleto de silêncio, o calor tórrido e seco que pairava sobre a cidade que parece nunca mudar, sozinho em casa eu esperei um sinal para que o momento certo chegasse. Em pé diante de meu álbum de fotos eu revi minha vida completamente, escutando uma musica bem ao fundo de tudo (Possibility - Lykke li) , os choques de adrenalina que percorriam o meu corpo eram incomuns, sobre a mesa havia uma arma (calibre 38), um copo com um liquido fatal, e uma fileira de remédios... Anti Depressivos de alta dosagem...e um objeto de 28cm feito de um metal frio (chamado entre os mais sábios de bronze celestial) cortante como uma lamina de bisturi (que nos meus intervalos de vida eu tive como uma varinha). De algum modo eu teria de morrer, agora como, eu não sabia... ainda...
Aumentei o som ao ponto de perfurar os ouvidos, agora a musica era outra, o som de uma balada romantica que eu ouvia na noite passada, sentei-me no chão do quarto, vesti meu terno e gravata (afinal, eles nem teriam o trabalho de comprar uma roupa de morto pra mim, eu ja estaria pronto) puxei as mangas da camisa até a altura dos pulsos, trouxe todos os utensilhos de morte para o chão. Junto a mim, um papel, uma caneta (uma carta era sempre bom para tentar explicar as coisas que nem eu mesmo tenho explicações). Então eu comecei, peguei o papel e a caneta e comecei a escrever:
"Queridos papai e mamãe..." Apaguei tudo em seguida, achei que endereçar algo assim tão especificamente seria fatal e poderia fazer com que eles sentissem uma culpa que nunca tiveram.

Comecei tudo de novo, mas dessa vez fui mais especifico do que eu pensei ser antes.

"Avisem aqueles que precisam saber, o resto pra mim não será nada..." e continuei com uma lista de e-mails e nomes de algumas pessoas que achei interessante que soubessem, no fim, deixei meu msn e minha senha.

Agora no aparelho de som eu escutava "Slow Life - Grizzly Bear" , peguei a arma, de primeiro eu não estranhei, desde meus 8 anos de idade estou familiarizado com armas, aprendi a atirar desde muito cedo, mas naquela hora hora percebi o quanto era estranho, aquele metal que era sempre frio, pesado demais para ser tão pequeno, o tamanho que não condizia com o peso.... desisti da ideia, seria forte demais me encontrarem com um buraco de bala em qualquer que fosse a parte do meu corpo. Então agora eu só teria duas alternativas, e ao invés de escolher uma, decidi que as duas juntas fariam total sentido. Se matar com remédios era uma maneira romântica e moderna de morrer, quantos e quantas atores e atrizes cansados dessa vida ja não fizeram isso ultimamente... sem marcas e apenas o mistério que todos se perguntaram depois ; o Porquê de tudo isso. E depois tinha também minha varinha cortante, a qual depois eu cortaria os pulsos de maneira que pudesse ver meu sangue pra saber quem em algum lugar dentro de mim eu estava vivo, que em mim haviam veias que drenavam e conduziam meu sangue por dentro do meu corpo inteiro. Agora vamos aos motivos, alguns podem pensar que foram por motivos amorosos, na verdade esse motivo foi apenas um no meio da gama de "motivos".. Meus maiores motivos foram as situações, todas elas, desde meu lado pessoal até meu lado social... tudo contribuiu...
Sentado naquele chão frio, eu tomei 33 comprimidos, um por um, sem saber quanto tempo iria demorar, a partir daquele momento eu era quase uma bomba relógio, que ao invés de explodir ira implodir, morrer por dentro... mas eu precisava de algo mais, agora a musica parecia travar e se repetir na minha cabeça, meu equilíbrio e minha visão ja estava se deturpando com o o efeito dos remédios. Enquanto me restava pouco tempo, peguei a varinha e fiz dois cortes horizontais no pulso esquerdo.. e por mais que eu esperasse a dor, ela não veio, apenas senti um liquido frio e (pelo pouco que podia ver) escuro minando pelo meu antebraço... Pronto. estava feito... segundos depois, o que vi me deixou alerta. Uma vastidão, apenas luz, o resto do mundo era luz, "eu consegui!" disse pra mim mesmo, até que as imagens foram se formando... uma estação de metrô se materializou na minha frente e um trem passou rapidamente sobre os trilhos ... até que então uma voz de uma mulher falou comigo. Não lembro bem de ter conversado no inicio mas depois lembro muito bem de eu ter perguntado onde estava. Uma pausa e a voz respondeu..
"Aqui tu estas para tomar partido do que abastes de fazer..."
"Uma estação de trem?" eu perguntei.
" não apenas uma estação qualquer, mais um lugar onde você ira decidir se irá ou não pegar o próximo trem" a voz agora era masculina.
"E para onde eles vão?"
"Eles vão para onde você decidir ir... enquanto você puder decidir"
De repente me lembro de ter olhado para o teto, o teto da estação.. totalmente branco com um pequeno lustre, ao longe me lembro de ter escutado outro trem vindo, ainda olhando para o teto da estação o trem passou e voz , num sussurro, falou: "Aproveite!."
O pequeno lustre do teto era real, e descobri que depois de dois dias eu tinha acordado, olhando para o teto de um quarto de hospital, com tubos enfiados garganta abaixo, tentei me mexer, mas estava preso, amarrado... vi o barulho de gente chorando. "Ah não, estou vivo!!!"

Depois eu escutei apenas alguém me acalmando e dormi, mais uma vez...

o resto é muito grande para ser contado num blog. Hoje estou bem, embora desejasse ter pego aquele trem. mas algo eu sei que tenho, coragem.. coragem para lutar contra a vida que tende a me propor novos desafios... não aconselho ninguém a tentar suicido , mas acho que se todos compreendessem a morte, todos saberiam e amariam profundamente a vida.. menos eu. Acho que tempo aqui ja está passando, sei que não vou viver por muito tempo (calma, não vou me matar) mas em minha mente sei que tenho pouco tempo... não sei quanto tempo eu tenho. Mas sei que não é muito.. daqui a dois meses estarei em outro lugar, e lá decidirei o que fazer com minha vida, longe das pessoas que me fizeram sofrer... de todas. Mas também irei deixar pessoas queridas aqui, que por mais raras que sejam, estiveram de alguma maneira do meu lado. A todos eu agradeço, por terem me ajudado. Um abraço. até o próximo post.

ahh! e outra coisinha gente. continuem comentando aqui no meu blog... aprendi a ler comentários agora.. um abraço.


Inutilidade

Publicado Por Michael Doublott As sexta-feira, março 19, 2010

Quando fazemos tudo para que nos amem...
e não conseguimos, resta-nos um último recurso,
não fazer mais nada.
Por isto digo, quando não obtivermos o amor,
o afeto ou a ternura que havíamos solicitado...
melhor será desistirmos e procurar mais adiante
os sentimentos que nos negaram.
Não façamos esforços inúteis, pois o amor
nasce ou não espontaneamente,
mas nunca por força da imposição.
Ás vezes é inútil esforçar-se demais...
nada se consegue; outras vezes, nada damos
e o amor se rende a nossos pés.
Sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada,
uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal,
e desprezamos a quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir
um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...
o de nada mais fazer
.